terça-feira, 17 de setembro de 2013

Goosfraba

A primeira vez que vi o filme “Tratamento de Choque” foi quando eu tinha 12 ou 13 anos e apesar de algumas cenas engraçadas, no final dele fiquei com aquela sensação de “que perda de tempo, o personagem não precisava passar por esse estresse todo”.

Não vou me delongar sobre filmes em particular, mas sobre esses tratamentos e minha visão antiga e atual sobre isso, só para comparar e deixar registrada minhas mudanças, afinal, meu blog não é de críticas de cinema, né? Rsrs.

Sempre parti do princípio que ninguém é burro, incompetente ou incapaz de entender alguma coisa, então sempre fui sincera e odiava quando alguém tentava me enganar. Aliás, eu raramente respondia as provocações de colegas do ensino fundamental, porque as provocações geralmente eram irracionais e as respostas sempre eram bobinhas, não eram SINCERAS, eram apenas insultos sem base. Mas não, eu não era uma coxinha. Meu soco e meu chute eram bem sinceros também naqueles guris babacas!

Com o tempo, comecei a deixar de lado os socos e chutes. Não pelo discurso de “isso não é coisa de menina” que, graças a Deus, nunca ouvi dos meus pais ou, pelo menos, não nessa situação, mas por ouvir dos meus pais “Érica, isso não resolve nada”. E não resolveria mesmo. Meus colegas iriam continuar zoando meu jeito de andar, minhas pernas peludas que minha mãe não me deixava depilar porque achava que eu ainda era muito criança para isso, meu cabelo, as roupas que eu usava do meu irmão que não serviam mais nele, meus óculos e sabe-se lá mais o quê... Então o que estava ao meu alcance era aceitar que eles, por algum motivo, eram babacas e deixar pra lá.

Recapitulando: diante de poucas pancadarias já ouvi dizerem que eu era nervosa. E depois eu realmente não dei mais bola para as provocações. Mas ninguém muda da água para o vinho e eu ainda me importava com certas provocações, mas não reagia. Há uma diferença entre não se importar por estar seguro de si e se importar, mas não poder revidar. E é disso que trata o filme Tratamento de Choque.

Na época eu achava injusto o personagem que não levantava a voz nem para uma mosca ser tachado de nervoso por um doutor que “promovia” a raiva do personagem. Qualquer um perderia a cabeça! E no final, quando o personagem finalmente se assumiu como um cara nervoso, eu subi pelas paredes! Como assim? Ele estava vestindo a carapuça? O doutor deixou o cara louco para depois ele se acalmar e dizer que o doutor estava certo? Que loucura!

Ainda acho loucura. Há métodos menos agressivos. Eu sempre disse que as pessoas devem aprender as possíveis consequências de seus atos, mas isso não quer dizer que devam receber quaisquer consequências mesmo porque algumas consequências são dependentes de ideias e ideias de pessoas. E consequências reais não dependem de um avaliador ou de um juiz, mas unicamente da situação em si.

Por isso o personagem não precisaria sofrer consequências desnecessárias. É ridículo alguém achar que pode controlar as ações de outra pessoa, pois pessoas são imprevisíveis! Às vezes você faz algo a uma pessoa esperando uma reação e recebe outra que você nem imaginava. Então não é seguro para nenhuma das partes envolvidas. Pode ser até traumático! Mas...

Semana retrasada assisti ao filme novamente. E dessa vez reconheci a mensagem. Reconheci, pois já havia conhecido ela na vida real.

O personagem sofria por não refutar essas consequências desnecessárias. Então nada mais sensato que encará-las.

Uma coisa que pude perceber com o entendimento que hoje tenho eram as batidas com os pés do personagem. Era um sinal de nervosismo. Ou seja, ele falava baixo, era paciente, não brigava, mas estava nervoso por dentro. E ele não brigava porque não se importava ou porque era maduro demais para brigar... Não! Ele não brigava porque tinha medo!

Se ele não brigasse por estar seguro de si, tudo bem, mas não era o caso. O caso não era brigar ou não. Era se amar ou não. Acho que eu estava mais focada no doutor peculiar do que no personagem que é socialmente aceito por ser “bonzinho” que não havia reparado nisso. Mas como ele mesmo diz no final, ele era, sim, nervoso. Nervoso por dentro! Nervoso porque não tinha coragem de refutar essas “consequências”, porque deixava que os outros o tratassem como lixo! Então a partir daquele momento, ele não se deixaria ser usado por mais ninguém e nem aguentaria calado um exploração. Eeeeeeee!

Como eu disse, reconheci a mensagem por tê-la conhecido na vida real! Antigamente eu revidava de forma a mostrar que estavam errados, ou seja, para “parecer” alguma coisa. Depois eu comecei a aceitar muita coisa quieta, não revidava, como o personagem. Depois não aceitava as coisas quietas, porque eu simplesmente não me importava mais com o que pensavam ou deixavam de pensar de mim. Nessa fase de indiferença, notei que muita gente se aproveitou de mim para me tratar do jeito que bem entendesse e eu, como o personagem, chegou ao seu limite e chutou o balde. E hoje não deixo ninguém me tratar mais como lixo também.

O engraçado é que vejo gente dizendo que ando radical hoje em dia. Não acho. Só deixo para lá pessoas que não me respeitam. Podem ter o defeito que for, mas se o defeito for a falta de respeito, aí “não passarão”. Às vezes posso acabar sendo injusta por cortar relações, não ser mais tão paciente... Mas essas pessoas não precisam do meu julgamento para serem felizes. Não sou ninguém para dizer o que elas merecem ou deixam de merecer. Não sou o doutor do filme. Sou o paciente. Só posso dizer o que EU mereço ou deixo de merecer. E eu não mereço mais ser palhaça dos outros.

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