Quem deixa o filho/filha sozinho num momento em que se
sabe que ele está mais inseguro que nunca? É como dizer “lute suas próprias
batalhas” para alguém sem preparo nenhum que na primeira tentativa e acerto,
tomará aquela decisão como a correta porque funcionou, seja ela bater ou correr.
Uma criança insegura vai procurar por segurança (pais,
professores, irmãos e amigos mais velhos), mas se ela não encontra essa
segurança, o que ela vai fazer? Uma pessoa que não tem segurança o suficiente
para enfrentar um problema faz o quê? Se omite, se esconde, foge, dá desculpas
e assim vai sobrevivendo. Mas nenhum pai/mãe quer que seu filho/filha seja
chamado de fraco, não é? Por isso eles estufam o peito e dizem:
- Você não pode viver fugindo dos problemas, você tem que
enfrentá-los.
Ok, bonita a atitude desses pais/mães! Mas de nada
adianta esse discurso se, novamente, negar a segurança ao filho/filha. É como
falar “sobe nessa bicicleta e se tu cair, vai apanhar de mim”. Não faz sentido!!!
Cadê os pais que ficam atrás do filho/filha na bicicleta e falam “tu não vai
cair, eu te seguro” e que fazem curativo no joelho depois para ele se recuperar
mais rápido e poder tentar de novo? Dar atenção à criança não a tornará uma “fraca”.
No mínimo a tornará amparada.
E não é frescura que falta de atenção deixa as pessoas
mal e a prova disso é que nós nos maravilhamos quando vemos pais e filhos
conversando como se estivessem conversando com seus melhores amigos, sem
receios de “para pai/mãe isso não se conta”. Geralmente nos surpreendemos
quando vê uma cena assim e automaticamente imaginamos se fosse conosco. Por que
nos surpreendemos? Porque o comum é ter conversas formais com os pais, é não
ter intimidade, é dizer “senhor” e “senhora”. E por que será disso? O que deve
ter acontecido para que não tenhamos tanta intimidade com nossos pais?
E se essas pessoas que acham que “é coisas da idade”
acham isso mesmo, porque carregam com elas o sentimento de uma coisa que era
para ter ficado no passado? Não era para já ter superado, já que era algo
exclusivo da idade? Ou será que isso era só uma desculpa para pais preguiçosos
não terem que se incomodar com os problemas dos filhos indo à escola,
conversando com o diretor, professor, pais dos alunos?
Lembro de uma passagem em Harry Potter e A Ordem da Fênix
onde Harry, assistindo as memórias do Professor Snape na Penseira, viu o seu
padrinho (Sirius) e o seu pai (James) atacarem Snape na época em que eram
alunos de Hogwarts. Harry ficou irado e Sirius tentou justificar essas ações
dizendo que ele e James eram muito imaturos, pois tinham apenas 15 anos na época,
ao que Harry replicou: “Eu tenho quinze anos!”
É, isso aí, Harry. Não caia nessa de “é coisa da idade”
também. Isso não tem nada a ver com a idade e sim com a educação.
Bullying não é brincadeira. Se fosse, todos estavam
rindo. No momento que alguém vê o outro chorar e continua implicando sem se
surpreender com o choro, é porque tem algo muito errado aí. Uma criança que
ouve xingamentos carinhosos dos pais (minha toupeirinha, minha bolinha, meu
palitinho, meu macaquinho, minha feiosinha) geralmente levam os insultos e as
implicâncias na esportiva. Mas até elas sabem quando parar, que é quando os
pais falam “não, assim magoa”, “assim machuca”... E honestamente, essa é uma “diversão”
dispensável para se ensinar às crianças, não é mesmo? Ensinar a ofender fazendo
comparações não vai formar caráter.
Falando nisso, é engraçado que falam em formar caráter,
mas nunca vi uma criança filosofando algo como “fulano disse aquilo porque é um
hipócrita” ou “coitado, tenta fazer graça porque não tem atenção em casa”. Não,
nunca vi uma criança formando caráter por xingar outra. A não ser que formar
caráter implique em revidar mesmo que irracionalmente. Mas alguém que revida
com palavras irracionais não tem caráter nenhum, só segue a correnteza.
A única coisa que formou é uma pessoa que se receber uma
crítica séria, vai dizer que foi criticada por inveja ou porque quem criticou
não faz sexo... Enfim, essas irracionalidades que aprenderam para “formar
caráter”.
Aí fica nessa: se te criticarem, é só criticar de volta e
não deixar nada te abalar. No final das contas, os pais criam aquilo que eles
mesmos eram contra: uma pessoa que vive numa bolha.
Sei que alguns devem ter se achado beneficiados com o
bullying que sofreu, pois sofreu e se tornou forte, mas daí eu pergunto: Quer
que a criança se conforme e se adapte a idiotice alheia perpetuando isso com o
discurso de que “é assim mesmo” ou quer fazer as coisas diferentes do que foi
na tua época? Por que para crescer tem que sofrer? Isso é desculpa de quem não
tem saco pra ir contra a corrente. Como você quer fazer um mundo melhor em que
o ódio, o preconceito e a violência sejam raros, se diz para o seu filho que
sofrimento é normal? “Ah, sofre aí um pouco que tô ocupado de mais pra ir lá
lutar por um futuro sem sofrimento”. Um sofrimento que venha naturalmente, como
morte, separações, decepções vai acontecer naturalmente. Não precisa de um
bando de babaca colocando os outros pra baixo pra isso.
Aí tem crianças que falam que sofrem com isso e os pais
falam “um dia passa”, daqui a uma semana realmente passou o sofrimento porque a
criança se matou. Aí se ela se matou, ela era afetada das ideias e não as
crianças que aprenderam com os próprios pais que é legal discriminar os
colegas. Tipo, não tem alguma coisa errada aí??
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