Muitas pessoas tem receio
de demonstrar o que sentem, de expor o que pensam, não sabem mais sentir,
pensar nem chorar por medo de ofenderem a si mesmas... Orgulho! Não podemos
deixar que pensem que somos idiotas, né? Temos que ser inflexíveis, não podemos
mudar porque nos ensinaram que temos algo chamado “essência” e que isso é tudo
que teremos pelo resto da vida e por isso não devemos traí-la. Ela tem que se
manter sempre a mesma.
Mas se temos uma essência só nossa, por
que quando pensamos sobre um assunto ou temos sentimentos estranhos temos que
nos policiar para pararmos? Por que o receio de perder a essência no meio do
caminho? Se ela é nossa e faz parte de nós, por que temos que agarrá-la? Ela
deveria nos seguir e, inclusive, nos impulsionar a pensar, sentir... Não? Por
que temos que parecer cheios de certeza o tempo todo ainda mais quando isso nos
faz mal e faz mal aos outros? Por que temos que parecer “maus”?
As pessoas não são más. Mas estão duras de
coração. Não podem demonstrar nada porque aprenderam que alguém sempre vai
abusar das suas fragilidades e acabam se tornando rígidas, brutas, intolerantes,
rudes... Como amar sem amar? Pior ainda, como amar numa sociedade que confunde
ser confiante com parecer confiante, com dicas externas para aparentar ser
confiante, e não dicas internas para realmente se sentir confiante? Como amar
numa sociedade que saúda a intolerância e condena a tolerância? Como amar numa
sociedade que aprova a falta de respeito com aqueles que são tolerantes porque
ninguém mandou não serem firmes na ignorância?
Como amar, ensinar e educar numa sociedade
inflexível que só finge o tempo todo que tá tudo certo e que te obriga a entrar
nesse joguinho bobo? Como se sentir livre para amar se as pessoas pensam que
você está fazendo parte desse jogo e que só está indo contra eles por birra?
Como se sentir livre para amar se as pessoas pensam que você está querendo
enganá-las e fazê-las de trouxa só por ter uma opinião diferente? Como se
sentir livre para amar se as pessoas te cercam, te pressionam até você falar o
que elas querem? Como se sentir livre para amar se as pessoas pensam que você
mente para elas (como se fossem especiais o bastante para que você precise de
alguma aprovação delas inventando uma desculpa)? Como ser flexível num mundo
inflexível que se apega a “essência” da ignorância e teima que não pode haver
outras formas de viver? De que me adianta formar minha própria personalidade,
meu próprio caráter, mudar de opinião, crescer... Se vão me chamar de muitos
nomes, menos de Érica? Pra que ser uma Érica se posso ser mais uma hipócrita que todo mundo aceita, entende? Para que tentar ser flexível se tem uma "essência" a zelar?
Muito bacana teu texto, Érica. Essa questão da "essência" interior é muito interessante. Inclusive eu tive, e por que não, tenho, problemas em lidar com esse conceito. Gosto muito da visão do Zen Budismo que absorveu do Taoismo chinês o hábito da mudança, os orientais são da opinião de que a única forma de não perdermos a essência é sermos flexíveis e passageiros como as estações do ano. Não aceitar visões diferentes e não estar aberto a aprender de fontes diferentes é o cúmulo da inflexibilidade e da ignorância. Infelizmente essa mentalidade do endurecimento é muito difundida e aceita na nossa sociedade. Acho muito melhor ser flexível como o bambu, que ao ser golpeado, absorve o impacto e retorna a posição original sem problemas. Do que ser rígido como a espada, que ao ser golpeada com força corre muito mais riscos de se quebrar.
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