segunda-feira, 23 de maio de 2011

Estrelas Dançando e o Tempo Acabando

A expectativa de vida do ser humano nos dias atuais prega certas peças no nosso cérebro como, por exemplo, desarquivar um conhecimento para que possamos prosseguir, desaprender e se desprender para que possamos aprender um aprendizado que vamos desaprender e se desprender futuramente por questões de prioridade e necessidade para chegar vivo até os 80. Mas há uma grande diferença entre “deixar pra lá” e ser irresponsável. E a irresponsabilidade está tomando o lugar da sabedoria por trás do “deixa pra lá”.
Um exemplo disso são propagandas de “se beber, não dirija” que mostra famílias inocentes destruídas por irresponsabilidade alheia. Todos se emocionam, se comovem... Mas 10 minutos depois saem para beber e voltam de carro. E nesse pequeno exemplo, contém vários traços da nossa sociedade doente:

1. Egocentrismo: Pensar que coisas ruins não vão acontecer conosco e, se acontecer, daremos um “jeitinho” devido a “exaltação da autoestima”. É claro que devemos colaborar com a autoestima, tanto quanto a nossa quanto a alheia. Ama teu próximo, não teu semelhante. Mas nem nos damos ao trabalho de controlarmos nossos impulsos de beber por mera diversão e “foi Deus que quis assim”?
Partindo desse ponto, sabemos que o ser humano pensa ser “o protegido.” Ideia de uma sociedade totalmente alienada que não sei se não se governa porque pensa estar sendo guiada ou se pensa estar sendo guiada porque não se governa.

2. Carpe Diem: A exaltação da luta faz a gente se sentir viva. Sim, “aproveitar o dia” virou sinônimo de competição, de disputa. Mais diversão e menos reflexão, afinal o sentido da vida é desfrutar cada minuto independente de magoar, ferir e matar os outros, porque todos os outros também fazem isso, não é mesmo?
O resultado é uma sociedade (sociedade?) toda corrompida com seus próprios interesses, sonhos e esperanças. Essas palavras deveriam ser coisas bonitas, mas sonhar hoje é sonhar apenas com o material, é sonhar apenas com você. Não há outros. Hoje, esperança significa esperar que o outro se dê mal para pegar seu lugar. E durante muito tempo não vi nenhuma resposta convincente para esse problema, nenhum argumento a altura, porque as pessoas não querem pensar sobre isso. E é exatamente aí que estava minha resposta: No silêncio da Preguiça.
Claro que nunca vi uma resposta, uma vez que as pessoas não se governam, não partem de si mesmas e esperam as coisas caírem do céu, esperando oportunidades para atacar. As pessoas sempre respondem com “é assim mesmo”, “são coisas da vida”, “um dia teremos respostas para essa humanização já quase perdida” e até mesmo “não pense nisso e vá ser feliz que é mais importante”, mostrando deslavadamente que sabem das consequências, pois quem tem conhecimento, tem um grande poder e “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. Essas respostas indiferentes servem para uma sociedade que sabe que se um problema tem solução, então não há motivo para pânico porque tem solução e se não tem solução, não há motivo para pânico, porque não tem solução. Mas experimente dar essas mesmas respostas para pessoas que não respondem por si, vítimas de preconceitos, perseguidas, sofridas, abusadas e que passam fome... Elas não têm tempo para “esperar uma resposta”. Elas não podem aceitar, se conformar e “deixar isso para o governo” ou “colocar nas mãos de Deus”. Elas não vão deixar de pensar em comida ou na violência que sofrem e “ir ser feliz”. Pense o quão preguiçoso e mesquinho é seu conselho quando dá uma resposta dessas.

3. Escravidão: Um povo que não se governa precisa de um líder, um bode expiatório para culparmos e responsabilizarmos. E não precisa ser um líder de carne e osso, pode ser um feito de fé.
Pense em como seria mais enriquecedor (não somente no sentido financeiro) se procurássemos soluções tanto quanto procuramos por culpados.
As coisas invertem: quando antes era só escravidão no trabalho, agora é só escravidão no espírito. As pessoas estão numa constante busca pelo prazer. É um vício pelo entretenimento que curiosamente a grande mídia televisiva não “reporta”. Sim, a TV não é burra de falar que ela mesma quer nos desviar da realidade nos enchendo de entretenimento fácil e barato. E depois de uma torrente de piadas já nem lembramos mais da primeira.
Já não há mais um “desejo duradouro” que realizamos constantemente e o vivemos todos os dias. Não... São desejos descartáveis, e no outro dia já não entendemos como ontem estávamos rindo tanto e como hoje estamos tão vazios. É uma fome que não é de comida, um frio que não é de temperatura baixa.
Pode parecer utópico desejar algo que “permaneça” visto que nos dias de hoje “nada prende ninguém”, e que bom que somos livres para fazermos nossas próprias escolhas e descartarmos o que quisermos. Mas contra fatos não há argumentos! São poucos os casos em que as pessoas são livres. Elas se perdem sozinhas e se prendem a um “ponto de ancoragem” usando o argumento de que “estão presas por livre e espontânea vontade” e que “ninguém deve se meter na vida do outro” quando vivem dizendo que sua vida é um “livro aberto”.  Perceberam como somos manipulados? Estamos presos e mesmo assim pensamos que somos livres... Taxar isso de conspiração realça o fato do egocentrismo na nossa sociedade. Não sei por onde começou essa onda, mas as pessoas, por não quererem parecer burras ou controladas, se mostram tremendamente céticas para as outras como se qualquer história fosse para “boi dormir”. Ora, se não há NENHUMA consequência em seus atos, por que realizá-los???
Temos tanto medo da alienação que isso acaba se tornando uma alienação! Somos escravos do descartável e por isso não temos motivação para lutar. Só resta rir de tudo.
As pessoas banalizam e vulgarizam por lazer e quando acham que estão fazendo algo de útil, geram ódio em cima de ódio!

Esses traços resultam na banalização das vitórias. Ninguém mais luta para vencer, mas para falar “eu tentei”. Em algum momento nossos pais quiseram nos incentivar mostrando que “não temos nada a perder”. E acreditamos nisso até hoje! Falta motivação! A famosa frase “pelo menos tente” usada por maioria dos nossos pais nos fazia pensar que o importante era TENTAR. Não pegamos a ideia real que era tentar até VENCER.
E quando não conseguimos vencer e alguém nos cobra, damos chilique, trocamos ofensas, debochamos do outro. ReVoltar não é rEvolucionar. As pessoas geram ódio, ao invés de adquirirem conhecimento, conhecimento que tanto pregam. Dizem querer respeito e dignidade, mas não têm nenhuma para com os outros nem com eles mesmo, se ofendendo e rindo de quem está irritado com essa situação toda, chamando-o de sonhador, bobo, tolo... A não ser que a irritação seja com a mesma situação que você se irrita. Isso é respeito?
É por isso que com tantas “vitórias” não se vence nada. A cada vitória nos sentimos mais vazios, como se nada fizesse a diferença, como se ainda tivesse algo maior para lutarmos. E há. Mas não enquanto defeitos forem aceitos nas vitórias; não enquanto a vitória vir defeituosa e a louvarmos com “pelo menos eu tentei” para satisfazer e acalmar nossa consciência pesada; não enquanto o saber for só uma ameaça, para não ter que lutar; não enquanto o ódio repassado e a frustração compartilhada forem sinônimos de conhecimento e dignidade; não enquanto a irresponsabilidade for sinônimo de sabedoria pessoal.

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