sexta-feira, 22 de março de 2013

Lágrima II

Às vezes fingimos que o passado foi bonito. Mas essa atitude só mostra que o nosso presente que é bonito. Bonito o bastante para não querer estragar o momento com o pó e as teias de aranha.
Não sei se fomos obrigados a ver beleza na vida, nos emocionar e chorar para limpar nossos olhos empoeirados e opacos ou se nos acostumamos com a poeira neles e a fantasiamos bela.
Mas uma coisa é certa: Tanto poeiras antigas quanto águas novas nos olhos atrapalham a visão. Mas a poeira, que inventamos ser lindos fragmentos de cristal, esfola e rasga os olhos, enquanto que as águas novas só distorcem momentaneamente uma imagem. Não é difícil se desfazer da poeira quando lavamos nossos olhos com água nova no mesmo instante. Mas é difícil se desfazer quando nos acostumamos com ela e a fantasiamos bela.
Quem dera eu ter os olhos sempre limpos, nem empoeirados, nem encharcados, para eu poder ver as coisas como realmente são.
E cada vez que as águas novas tentam levar a poeira embora, é como se a tirassem de um estado concentrado e a espalhassem mais nos olhos... Uma poeira que, ao contrário do que muitos dizem, não faz parte de mim e do que sou. Uma poeira externa que tocou meus olhos sem eu querer. Já as água novas, são internas, brotam de mim e apesar de que, quando brotam muito e a imagem fica desfocada, é só por alguns minutos e não pela vida inteira.

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