Era uma vez uma muda. As pessoas que a conheciam a achavam misteriosa, mas ninguém parava para cuidar dela.
Um dia alguém decidiu fazer isso. Foi por mera curiosidade, para vê-la florescer e descobrir de que espécie ela era. E a muda floresceu. E muitos bateram palmas. "Até que enfim!" diziam.
"Até que enfim o quê? Estavam com pressa? Pressa pra quê?", pensou a muda.
Depois de florida, novas pessoas chegaram com suas opiniões formadas, esquecendo que ela estava nova e ainda ia passar por muitas abelhas, borboletas, tempestades, invernos... As pessoas que acompanharam seu crescimento já não estavam mais por ali. Umas se mudaram, outras a morte levou... A muda precisava fazer outro número! As flores rosadas não era mais o suficiente. A beleza já não era mais novidade para aquela gente. Eles não se importavam se ela ia crescer, se fortalecer ou florescer... Eles queriam que ela fosse útil para eles, que lhes oferecesse algo. Então decidiu dar frutos, pequenos e avermelhados. Mas com o passar do tempo, deixou de ser novidade e os frutos já forravam o chão.
E então a árvore, outrora muda, percebeu que já não teria muitas novidades para apresentar a partir dali. Não teria mais nenhum número especial para que amassem ela. Logo ela cairia no esquecimento... E então a estação do ano mudou.
E ela percebeu que não precisaria surpreender sempre as pessoas. Que as estações do ano se encarregariam disso.
A árvore de cerejeira permaneceu e muitas pessoas passaram pela vida dela, esperando coisas diferentes. Já não havia mais aquela expectativa do que ela seria. Todos já a conheciam. Inclusive ela mesma. Deixou de ser muda para ser mudança.
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